Um relatório demolidor da Guarda Costeira dos Estados Unidos, agora tornado público, responsabiliza diretamente o CEO da OceanGate, Stockton Rush, pela catastrófica implosão do submersível Titan, ocorrida em junho de 2023 durante uma expedição aos destroços do Titanic. O documento, com 335 páginas, revela que Rush “ignorou completamente” dados cruciais, inspeções e procedimentos de manutenção preventiva que poderiam ter evitado a tragédia, que vitimou cinco pessoas, incluindo ele próprio.
Segundo o relatório, as práticas de segurança da OceanGate eram “criticamente falhadas” e a empresa operava com uma cultura organizacional tóxica, onde se reprimiam preocupações legítimas sobre segurança. “A ausência de supervisão externa e de funcionários experientes da OceanGate durante as operações com o Titan em 2023 permitiu que o CEO ignorasse inspeções vitais, análises de dados e procedimentos essenciais de manutenção, culminando num evento catastrófico”, lê-se no documento.
Além de liderar a empresa, Stockton Rush também pilotava o submersível, função que, segundo o relatório, desempenhou com “negligência que contribuiu para as mortes dos quatro passageiros”. A investigação encontrou ainda “evidência de uma potencial infração criminal” por parte de Rush. Caso tivesse sobrevivido, a Guarda Costeira teria recomendado ao Departamento de Justiça norte-americano que considerasse uma investigação criminal. Contudo, como o CEO morreu na implosão, tal processo não avançará.
O relatório também isenta a própria Guarda Costeira e outras entidades externas de qualquer conduta imprópria, negligência ou violação legal que tenha contribuído para o acidente.
O relatório identificou oito causas principais para a tragédia. Entre estas, destacou-se o incumprimento dos princípios fundamentais da engenharia no processo de conceção e teste do Titan. A OceanGate não avaliou devidamente a vida útil expectável do submersível, nem analisou de forma significativa os dados recolhidos pelos seus sistemas de monitorização em tempo real. Apesar de vários incidentes anteriores comprometedores, a empresa continuou a usar o Titan sem realizar as devidas avaliações técnicas. A estrutura em fibra de carbono revelou-se um ponto crítico de falha, pois debilitava a integridade estrutural da cápsula. Além disso, a empresa falhou repetidamente em investigar incidentes anteriores e não realizou manutenção preventiva essencial no casco do submersível, particularmente durante os períodos em que não estava em uso.
Também se revelou que a OceanGate cultivava um ambiente de trabalho tóxico, no qual os funcionários que exprimiam preocupações com a segurança eram silenciados ou despedidos. Em 2018, a empresa recebeu uma denúncia de um denunciante que nunca foi devidamente investigada. O relatório sugere que, caso essa denúncia tivesse sido levada a sério, poderiam ter sido evitadas as expedições ao Titanic e, em última análise, a tragédia de 2023.
O colapso estrutural do casco em fibra de carbono do Titan foi apontado como a causa directa da implosão, provocando a morte imediata de todos os ocupantes. De acordo com os peritos da Guarda Costeira, os passageiros foram expostos a uma pressão de aproximadamente 4.930 libras por polegada quadrada, o que resultou numa morte instantânea.
A investigação vai mais longe ao destacar que Stockton Rush contribuiu para um ambiente de falsa segurança, ao ter representado o Titan como uma embarcação praticamente “indestrutível”. A liderança sénior da empresa terá também promovido uma cultura onde se priorizavam restrições financeiras e expectativas dos clientes, em detrimento da segurança.
Entre os passageiros que morreram na implosão estavam o próprio Stockton Rush, o bilionário britânico e explorador Hamish Harding, o ex-mergulhador da Marinha Francesa Paul-Henry Nargeolet, o empresário britânico-paquistanês Shahzada Dawood e o seu filho Suleman, de 19 anos, estudante da Universidade de Strathclyde, em Glasgow.
A família Dawood divulgou um comunicado após a publicação do relatório, expressando profunda tristeza e apelando a mudanças significativas no sector dos submersíveis. “O relatório confirma comportamentos não regulados, falta de responsabilidade e um design fundamentalmente falhado”, afirmaram. “Nenhum relatório pode alterar o desfecho devastador, nem preencher o vazio deixado por dois membros tão amados da nossa família.” A família defende que deve haver responsabilização e reformas regulamentares: “Se o legado de Shahzada e Suleman puder ser um catalisador para mudanças que previnam novas tragédias, isso trará algum conforto.”
O relatório denuncia ainda que, nos anos que antecederam a tragédia, a OceanGate recorreu a “táticas de intimidação” e explorou lacunas regulatórias para evitar o escrutínio das autoridades. Ao “criar e explorar confusão e desafios de supervisão”, a empresa conseguiu operar o Titan completamente à margem dos protocolos estabelecidos para exploração em grande profundidade.
Como conclusão, os investigadores sublinham que o fator causal primário da implosão foi o “incumprimento dos protocolos de engenharia estabelecidos para segurança, testes e manutenção do submersível”. O relatório recomenda mudanças profundas: é urgente implementar governança corporativa adequada, promover uma cultura organizacional profissional e reforçar a fiscalização regulatória sobre veículos subaquáticos tripulados.













